PDU e PDM, o que é e o que foi
Acompanhe a entrevista com o Dr. Antonio Ângelo Zurlo e conheça um pouco da lisura dos homens públicos de outrora, que tinham amor à cidade e não eram movidos pela ganância do dinheiro e do poder. Eram vereadores uma vez só e abriam caminho para outros contribuírem também.
Santa Teresa Notícia – O Sr. foi o idealizador do primeiro Plano Diretor Urbano da cidade, que foi o PDU que mais tarde foi transformado em PDM. Quando foi isso?
Dr. Zurlo – Em meados da década de 90, Santa Teresa já tinha uns 10 mil habitantes, começava o adensamento populacional e a ocupação de áreas com risco de construções. Pensei: “Se chegar aos 20 mil não vai mais ter o que organizar.” Então, peguei uma máquina fotográfica, andei pelas ruas, fotografei tudo que estava errado. Falei com o prefeito, na época era o Gilson Amaro, ele convocou uma reunião com o secretariado e outras pessoas, encheu o salão. Preparei um quadro grande e coloquei um painel com 80 fotos e fiz a palestra explicando, o que tínhamos que fazer para crescer numa cidade organizada. Enfim, fui aplaudido. E mais nada foi feito. Fui então à Câmara de Vereadores, fiz a mesma exposição, mas também não houve providências. Então, na condição de advogado, entrei com uma ação na justiça, requeri ao juiz que citasse o prefeito e ele providenciasse o Plano Diretor Urbano (PDU)de Santa Teresa. O juiz abriu vista para o Ministério Público, que concordou e intimou o prefeito. Com uns 30 dias depois já tinha uma equipe que veio de Vitória fazendo o levantamento. Logo em seguida foi elaborado o projeto. Naquele tempo era 5 leis.
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STN – O Sr. era vereador nessa época?
Dr. Zurlo – Eu tinha sido eleito naquele ano, me candidatei e fui eleito vereador em 1996. Quando o projeto chegou na Câmara, os vereadores conhecendo meu entendimento sobre o assunto, me elegeram relator da Lei. Trouxe o projeto para casa e levei meses estudando ele. Pedi ao Cláudio Vereza, deputado na época, e ele me forneceu material de estudo, eu fui adaptando. O projeto ficou pronto. Chegou na Câmara e foi aprovado. Ninguém botou emenda, nada. O prefeito elogiou e sancionou, sem nenhuma ressalva. Mas porém jogou para a prateleira. Daí surgiu o progresso desordenado como as construções na área de risco, aquela favela pendurada na montanha. Parece até que foi uma resposta ao meu trabalho. Há poucos dias encontrei uma pessoa na rua que disse: “No Brasil, estamos precisando de uma lei que obrigue as autoridades a cumprir a lei”. Coloquei isso em um artigo meu.
STN – Me conta um pouco da sua vida, onde estudou, profissão… Ouvi falar que o Sr. foi vereador quando bem jovem.
Sr. Zurlo – Entrei na Escola Agrícola do Espírito Santo (hoje Ifes) no dia 8 de Janeiro de 1948, tinha 14 anos. Dr Lúcio Fernandes Ramos, mineiro, foi meu diretor durante 7 anos acompanhou meu trabalho. No primeiro ano, enquanto os alunos, na hora do esporte, ia jogar futebol, vôlei, basquete, etc, eu ia na casa dos professores, tinha as casas deles por lá, eu gostava de plantar laranjeiras. O diretor ficava de olho.
Fui presidente do Grêmio Estudantil em 1953, nessa época fomentamos a prática de todo tipo de esporte. Em 1954, os alunos estavam tão bem preparados que a Escola Agrotécnica do Espírito Santo foi campeã olímpica na Olimpíada Estadual
Em 1955 o diretor me chamou à diretoria e disse: “Este ano termina seu curso aqui… Você poderia se candidatar a vereador”. Então me candidatei. Eu não fui à olimpíada porque estava trabalhando na campanha. E acabou que a escola foi campeã olímpica e eu fui eleito vereador. Eu morava em Santo Antônio do Canaã, tinha que sair toda terça feira de manhã, vinha de ônibus chamado galinheiro (sem porta), de paletó e gravata para as sessões na câmara. Nesse tempo vereador não ganhava nada. Em Junho, no dia 26, teve a comemoração da fundação de Santa Teresa, que perdura até hoje. Eu estava em casa, em Patrimônio, recebi um ofício da Câmara me convocando para uma sessão solene em comemoração à fundação de Santa Teresa sendo o orador oficial, o edil Antônio Ângelo Zurlo. Eu tinha 21 anos.