Pesquisador teresense publica artigo sobre formiga gigante da mata atlântica
Pesquisador de Santa Teresa publica na revista Sociobiology artigo “Um dia na vida da Dinoponera lucida, espécie de formiga gigante, endêmica da Mata Atlântica e ameaçada de extinção.
Os biólogos Cássio Zocca, Flávio Curbani, Rodrigo B. Ferreira, Cecília Waichert, Tathiana G. Sobrinho e Ana C. Srbek-Araujo acompanharam durante 4 dias a formiga gigante Dinoponera lucida, espécie endêmica da Mata Atlântica ameaçada de extinção.
O resultado da observação da rotina desta curiosa formiga está no artigo “A Day in the Life of the Giant Ant Dinoponera lucida (Um dia na vida da Dinoponera lucida), 1901 (Hymenoptera, Formicidae): Records of Activities and Intraspecific Interaction”, que acaba de ser publicado na revista Sociobiology. O artigo tem como primeiro autor o pesquisador do Inma Cássio Zocca. O trabalho de campo foi realizado em Linhares/ES.
Tocandira da mata atlântica
De acordo com o biólogo pesquisador do Inma, Cássio Zocca, o estudo trouxe importantes dados sobre os hábitos desta espécie e detalhes da atividade de forrageio, guarda e manutenção dos ninhos, o modo de orientação e como a espécie interage com os demais indivíduos de sua comunidade. Os pesquisadores indicam a necessidade de um monitoramento a longo prazo para aprofundar o conhecimento sobre a Dinoponera lucida, a “tocandira” da Mata Atlântica.
A Dinoponera lucida, embora descrita em 1901, ainda tem hábitos pouco conhecidos. “Esta formiga endêmica da Mata Atlântica ocorre em locais florestais preservados e seu forrageamento é solitário. Ela sai sozinha em busca dos itens alimentares, diferente de outras espécies que fazem o forrageamento em trilhas para buscar alimento”, explica Zocca.
Sua força e seu tamanho gigante entre as formigas, medindo entre 2 e 3 centímetros, podem dar a ela a coragem para sair solitária pela floresta em busca de alimentos. Entretanto, esta espécie surpreendeu os pesquisadores, quando dois indivíduos agiram em cooperação ao transportar uma semente para o ninho.
Os pesquisadores observaram os indivíduos de três ninhos de Dinoponera lucida durante 4 dias, sempre das 6 às 18 horas, totalizando 48 horas de observações de campo. Cada formiga buscava sua presa (plantas ou pequenos insetos) num perímetro de 11 metros.
Seu deslocamento indicava caminhos aleatórios, não aparentando qualquer padrão ou preferência. A Dinoponera lucida também mostrou-se fiel à sua colônia, sempre retornando para seus ninhos originais depois de capturar o alimento. Para entender a escolha dos trajetos e o retorno ao ninho, os pesquisadores retiraram a serrapilheira para excluir rastros químicos ou pistas visuais. Mesmo assim, os indivíduos voltavam para casa, o que pode indicar que utilizam pistas visuais fixas maiores, como troncos, galhos, raízes e arbustos.
O grupo de biólogos observou também o trabalho de manutenção do ninho, com a retirada de folhas, grãos de areia e pedras caídas. Esta atividade foi intensificada após a chuva, o que parece sinalizar uma resposta às mudanças ambientais que podem colocar o ninho em risco.
Com seus companheiros de ninho, a Dinoponera lucida não apresenta interações agressivas. Entretanto, os encontros com indivíduos de outras colônias não foram amistosos. Isso talvez leve à delimitação das regiões para a busca de alimentos.
Para ler o artigo “A Day in the Life of the Giant Ant Dinoponera lucida Emery, 1901 (Hymenoptera, Formicidae): Records of Activities and Intraspecific Interaction”, acesse: https://www.researchgate.net/publication/352407220_A_Day_in_the_Life_of_the_Giant_Ant_Dinoponera_lucida_Emery_1901_Hymenoptera_Formicidae_Records_of_Activities_and_Intraspecific_Interactions
Autores: Cássio Zocca, Flávio Curbani, Rodrigo B. Ferreira, Cecília Waichert, Tathiana G. Sobrinho, Ana C. Srbek-Araujo.