ColunistasFrei José Corteletti

Que saudade danada!

36427000_303 Que saudade danada!

Ainda nos idos do Setenta, ao me encontrar com ex-alunos do célebre Colégio Ítalo-Brasileiro, Américo Pretti, Frederico Polli, Hilário Pazolini, Américo Salviato, Benvenuto Salviato, Eugênio Biasutti, Alberto Marochi, Isidoro Corteletti, Frederico Martinelli, Augusto Ruschi e tantos outros, gloriavam-se de terem sido alunos do Colégio dos Padres. Que saudade danada! – diziam – e alguns deixavam escapar alguma lágrima. Mamma mia! O Virgílio Tomasi Lambert, nonagenário, aluno da Scuola Parrocchiale “Rita Berini”, do início do século Vinte, recordava recitando para mim dezenas de estrofes da Divina Comédia e sonetos inteiros, também de Dante Alighieri. Sempre na língua de Dante e com muita expressão. Que coisa linda! Todos os ex-alunos comentavam as virtudes, o jeito dos frades, a disciplina forte da Escola e, sobretudo, as demonstrações cívicas nas paradas oficiais, com desfile ao rufar dos tambores, surdos e bumbos, caixas-de-guerra e repiques dos taróis, marcando o compasso das estridentes trombetas da banda marcial; evoluções dos pelotões e números artísticos de ginástica; tudo coroado com discursos inflamados de amor pátrio, diante do povo teresense orgulhoso de seus filhos. Recordavam a gloriosa esquadra de futebol, tantas vezes vitoriosa nos embates com equipes de Afonso Claudio, Itaguaçu e Cachoeiro de Santa Leopoldina. No auditório, que ocupava toda a área ajardinada atual em frente da gruta de Nossa Senhora de Lourdes, a cidade em peso ia assistir a belas peças teatrais levadas ao palco pelos alunos, intercaladas com o coral do Colégio, declamações, cantos e tocatas ao piano, pelo maestro e músico, Frei Domingos de Módica e professor Generoso. Também o grupo teatral das gentis senhoritas da cidade, sob a direção das professoras, D. Rosalina e Augusta Ruschi, trazia números com muita graça, arte e elegância. Não me falem dos grandes passeios! Mamma mia!…

Prancheta-1-1 Que saudade danada!


Final de novembro de 1926. A chuva insistia impertinente com muita lama nas estradas. Fazendo parte dos festejos de enceramento do ano letivo, foi promovida pelo Colégio a primeira corrida de bicicleta de Santa Teresa, organizada pelo recém-criado “Club União Cyclista Santa Thereza”, até o Alto Tabocas, com 28 quilômetros ida e volta. Os padres do Colégio ofereceram o rico troféu ao vencedor e o senhor Paulo Bonino, em cuja loja vendia bicicletas, um prêmio de cinquenta mil. Eram catorze corredores inscritos, os melhores ciclistas da região como o italiano Salvador Pireda, Alberto Marochi, os irmãos Armando e Constantino Zottich, Paulo Mattos, Ciro Carnelli, Miguel Tiecher, Antônio Souza, Fortunato Bonino, Luiz Leal, Fernando Giugni, Acrísio Bonfim Jr. e Antenor Souza.

No pátio do Colégio, às 3:30 da tarde, sob a vigilância dos fiscais de largada e chegada, Públio Mota, membro da União Ciclista, e o professor Rui Barcellos, foi disparado pelo diretor da prova o foguete da largada. Marochi, o mais afoito, partiu velocíssimo como uma bala; em verdadeiro voo, na primeira descida, a bicicleta derrapou na terra molhada e, bicicleta de um lado, o atleta todo enlameado ficou procurando o gorro trecolori que nunca mais encontrou, abandonando de vez a prova. Tomaram a dianteira o atlético Ciro Carnelli e Salvador Pireda, um no cheiro do outro. Em perseguição ameaçadora, o Carnelli, levava mínima vantagem sobre o Pireda, e ia pensando, com pedaladas vigorosas em sua “Bianchi” de corrida com aros de ferro, guidão parecendo chifre de boi: Ah! se eu tivesse uma “Bianchi” de aros de madeira e pneus Pirelli sem câmara, levíssima, como se usa hoje na Itália!… ganharia a corrida. No Alto Tabocas, os fiscais Orlando Nascimento e João Amorim Braga deram ok ao Carnelli e Pireda, primeiros a atingirem o ponto do retorno. Na volta, de outros 14 quilômetros, iam encontrando os que lutavam contra a lama e o peso do esforço. Destes o pensamento não era mais o troféu e sim a alegria de verem suas namoradas aguardando a chegada. O Atílio Zottich antecipara ao diretor da prova: “Você ganhou, Ciro”. Surpreso aguardou a bandeirada final, no pátio do Colégio lotado de torcedores e ao som da banda “Vencedora”. Em sua residência na praia, o troféu com a inscrição: “Colégio Ítalo-Brasileiro ao Campeão Ciclista – Santa Teresa – Ciro Carnelli. 21-11-1926”, ocupava lugar de destaque! Mamma mia!!!