ColunistasEdimar Hermógenes

Soluções a curto prazo, prejuízos futuros

Brasil colônia

1-Permacultura1-300x200 Soluções a curto prazo, prejuízos futuros

O Brasil, desde seu descobrimento, sempre foi tratado como colônia, como um fornecedor de matéria prima, desde o ciclo extrativista do pau brasil, passando pela cana de açúcar, cacau, borracha até os dias de hoje com o café. A monocultura sempre foi vista como a salvação da lavoura, a solução. porém nunca se levou em conta os negativos impactos ambientais e sociais gerados com esse método de produção. Exemplo disso são as péssimas condições de trabalho nas lavouras, renda acumulada na safra, concentração de renda nas mãos do grande produtor e a necessidade de grandes áreas para cultivo. Diferente da policultura que têm uma maior produção e mais variedade de produtos em uma mesma área com a adoção de consórcio. Além disso têm a questão do Brasil ser um país tropical com grande diversidade biológica, na monocultura fica mais difícil o controle de pragas, sendo necessária o uso de grandes quantidades de agrotóxicos, pondo em risco a saúde da população.
O plantio do eucalipto foi incentivado pela promessa de que diminuiria o impacto sobre as florestas, porém o eucalipto trouxe também o êxodo rural, pois estas culturas que não precisam de mão de obra para o cultivo, acabam por levar os jovens a buscarem trabalho fora do campo. Augusto Ruschi em 1979, escreveu em seu livro; Agroecologia, sobre os impactos negativos que o eucalipto traria para a região, principalmente a diminuição da água com o plantio de eucalipto próximo das nascentes. O que ficou atualmente confirmado.
Esse modelo de produção proposto pelo governo é muito focado no produto e muito pouco nos processos de produção. O governo lançou uma nova variedade de café, resistente à seca, eu perguntei a um dos pesquisadores que lançaram o novo café, se os bancos irão financiar recursos sem o processo de irrigação. Ele riu e disse: Assim também não.
Isso ilustra bem como o agricultor familiar está obrigado a agir dentro de um sistema que visa reproduzir o agronegócio do grande produtor. O pequeno produtor familiar apelidado de “agronegocinho” é obrigado a aplicar os métodos de produção em larga escala, isso é muito errado, é um sistema falho que está expulsando os jovens do campo.
Teria muito mais resultado se o governo lançasse um programa desenvolvido para a agricultura familiar, levando em conta o tempo que leva até o café produzir e sugerir maneiras de o pequeno agricultor estar gerando renda, tendo o café como cultura principal, mas aproveitar os consórcios que irão melhorar a saúde da planta e agregar qualidade ao produto e suplementar a renda.
Enfim pensar em processos de produção ao invés do produto. é por essas razões que estamos perdendo água no sistema e vivendo vários problemas socioambientais que já duram cerca de 50 anos.
Esse é o nosso desafio futuro, entender que os órgãos do governo estão jogando com o nosso futuro, entender que todas essas idéias que nos empurram, garantindo ser os salvadores da situação, em pouco tempo aparecem os inúmeros impactos negativos, antes negados na hora de convencer o agricultor.
Depois que a ideia dá errado, eles escondem a mão e criam outra solução delirante. O mesmo estado que incentivou a supressão da mata ciliar dos rios com o Provárzea é o mesmo que multa por derrubar uma árvore que oferece perigo para uma moradia e processa o produtor, mas nunca assume a culpa. É necessário conhecer os impactos antes de implantar uma ideia.
Nossos problemas de produção e controle ambiental vem de longa data, com soluções sempre imediatistas propostas pelos órgãos do governo, sempre de maneira intempestiva, sem debates e sem estudos de impactos necessários.
Os problemas atuais de Santa Teresa com o café, e mais recentemente com as uvas e o eucalipto, são simplesmente falta de olhar para o futuro. No caso do café, os imigrantes não estavam acostumados com o clima tropical, usaram muito fogo para limpar e controlar as áreas de cultivo.
Hoje o governo que incentivou o plantio do eucalipto, trata o produtor como se ele fosse o responsável pela gestão dos recursos hídricos, como se o produtor plantasse o eucalipto para acabar com a água, nada disso, o produtor plantou eucalipto porque era economicamente viável e não por maldade ou dolo.
É o caso das barragens, estão incentivando construções de represas, mas sem fazer estudos necessários, sem conhecer a natureza, logo, logo descobriremos que fomos traídos novamente pelos órgãos governamentais, como aconteceu há anos com o eucalipto apresentado pelo governo como salvador da pátria, mesmo apesar dos muitos alertas, até do próprio Ruschi sobre a falta de água, resultado constatado atualmente.
O agricultor tem que questionar esse modelo de trazer ideias mirabolantes e de induzir os agricultores a projetos com muito impacto e pouco rendimento.
As soluções sempre foram apontadas por pessoas que nem participam do processo de produção. Chegam com muita teoria e pouca prática, fazendo propaganda que este ou aquele produto será um sucesso, garantindo que nosso produto vai concorrer com a europa (com empresas que já fazem isso há centenas de anos).

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408