Cultura

Um olhar sobre Ruschi

Recentemente Alyne dos Santos Gonçalves lançou uma obra literária e biográfica sobre o cientista naturalista Augusto Ruschi, convidamos Aline para falar um pouco sobre esse trabalho. “Augusto Ruschi – Notas Biográficas”

Santa Teresa Notícia – Fale um pouco de você.

Alyne dos Santos Gonçalves – Nasci em Vitória, em 1979, mas cresci e me formei em Cariacica, muito cedo me interessei pelos estudos e pela vida acadêmica, aos 14 anos decidi que ia estudar história, nunca tive uma segunda opção. Entrei na faculdade em 1997, aos 17 anos, cursei 2 anos e tranquei. Fui para a Alemanha, onde morei durante 1 ano. Essa experiência foi muito rica, me abriu os horizontes, Morar sozinha, conhecer novas pessoas e culturas aos 19 anos, me deixou mais autônoma, com a cabeça mais aberta. Voltei no ano 2000, terminei o curso de história.  Porém antes do mestrado,  fiz outros trabalhos ligados à língua Alemã.

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Fiz pós-graduação em filosofia política, e em seguida fui dar aula na UVV,  no curso de direito dei aula durante 3 anos e meio, de 2003 – 2007. 

Foi uma experiência bárbara, dar aula para o ensino superior tão nova eu tinha 23 para 24 anos, continuei me especializando, entrei no mestrado 2006, com isso juntei essa coisa de gostar de estudar e gostar de projetos sociais e propostas políticas de transformação do mundo.

STN – Fiquei sabendo que foi simpatizante do movimento Zapatista, como foi isso?

ASG Sim. Me interessei muito por esse movimento rebelde, chamado Exército Zapatista de Libertação Nacional, um movimento de mestiços e indígenas no sudeste do México e comecei a estudar o que esse movimento entende por democracia, entende por autonomia política, autonomia humana e como, que essas comunidades indígenas Mexicanas Zapatistas tentavam construir a sua autonomia e a sua rebeldia em relação ao Governo Federal Mexicano. Em 2008 para concluir meu mestrado em história política, viajei junto com meu marido, moramos 5 meses no México, tivemos contato com essas comunidades que era o objetivo do meu estudo, foi experiência muito rica e decisiva para minha vida, me transformou de maneira muito forte.

STN – Como foi sua vinda para Santa Teresa?

ASGNo final de 2008, quando voltamos ao Brasil, após defender meu mestrado, começamos sentir a necessidade de morar no interior e construir uma coisa nova para a gente. Mudamos para cá anos depois, em 2012, no primeiro festival Internacional de Jazz, quando nós nos apaixonamos por Santa Teresa e resolvemos morar aqui. Conseguiu alugar uma casa grande no centro e começamos a trabalhar com hospedagem, até conseguimos estabilizar nossas carreiras, eu como historiadora e meu marido como jornalista. 

STN – Quando se deu o contato com a história de Ruschi?

ASG Já tinha ouvido falar de Augusto Ruschi, mas pouco, como a maioria dos capixabas, desconhecia a história de Ruschi. Comecei a pesquisar história e um pouco sobre a natureza, o lado ambiental de Santa Teresa. Comecei a frequentar a biblioteca do museu, e uma pessoa chegou falando assim:  -“Olha você que é historiadora, têm um monte de cartas e papel velho do Ruschi aqui e ninguém nunca se interessou de ver”,  fiquei muito curiosa, eram 2 armários de aço e tirei uma carta do Ruschi que ele escreveu para o presidente Juscelino Kubitschek. Então em 2013 e 2014 eu começo a mergulhar na história de Augusto Ruschi.

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Fotos Leonardo Meira / Legenda (da esquerda para a direita):
Os documentalistas que participaram de uma fase do processo de leitura e descrição dos documentos do Ruschi
Silene Montibeller, Lorrayne Jessica da Silva, Alyne Gonçalves e
André Benaquio Galvão.

STN – E o livro? de onde veio a ideia?

ASG – A ideia do livro foi depois que eu comecei a trabalhar no museu, recebia ligações de pesquisadores do Brasil e de outros países, querendo saber onde encontrar informações confiáveis sobre a história de  Augusto Ruschi. Até então havia informações dispersas, alguns poucos livros escritos por jornalistas, mas a maioria desses textos reproduzia o que o Ruschi falava de si mesmo, o que significa, que essas fontes que não estavam calcadas em outros documentos, além da própria voz de Augusto Ruschi. Tinha aquele texto já defasado do Wikipédia na internet, e as pessoas em busca de fonte confiável, ia “bater” no Museu Mello Leitão que agora é o Inma. Foi quando pensei “Poxa essa instituição cuja o patrono é Augusto Ruschi, patrono da ecologia do Brasil, fundador do museu Mello Leitão, nós não temos uma literatura científica confiável, baseada em documentos para oferecer ao público e pesquisadores. foi quando comecei a aprofundar os aspectos pessoais, biográficos de Augusto Ruschi, que é uma coisa que eu não trabalhei na minha tese, para servir de base para esses pesquisadores e para os guias do MBML.  Também não tinha uma base confiável para desenvolver roteiros de visitação, então eu desenvolvi  isso com base no aspecto biográfico do Ruschi, nas cartas com aqueles recorte de jornais que tem lá no arquivo dele, que ainda a gente tá organizando, e fiz uma primeira versão de 30 páginas, enviei para o meu diretor e ele gostou muito, ficou entusiasmado falou “Olha, tem muita informação aqui, umas que eu nem sabia nós temos que publicar, oferecer esse produto para nosso visitante, nosso pesquisador” e ele é um conhecedor da história do Ruschi, porque o acompanhou ainda vivo. Aprofundei os pontos desse primeiro copião de 30 páginas, que virou esse livro que a gente publicou no final do ano passado durante o aniversário de 104 anos de Augusto Ruschi. 

STN – quem ajudou?

ASG – O livro contou com uma bolsa da Secretaria de Meio Ambiente do Estado Espírito Santo, através da Faps, a impressão dele, foi editado, financiado pelo Instituto Nacional da Mata Atlântica (Inma), é o primeiro livro publicado pelo Inma também tenho essa honra espero lançar com isso uma linha editorial de publicações do Inma.

Eu contei com uma parceria muito importante também do Masp (Museu de Astronomia e Ciências Afins) que é uma unidade MCTIC sediada  no Rio de Janeiro, que tem expertise mais de 30 anos na Organização de Arquivos da História da Ciência. Estou muito feliz, o trabalho tá lindo, tem ali fotografias pouco publicadas ou inéditas, tem ilustrações inéditas e eu acho que o mais legal do livro é que tem trechos extraídos desses arquivos, dessas fontes primárias, tem trechos inteiros de cartas e jornais, e ai a minha análise para tentar amarrar todas essas fontes literárias.   

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408