ColunistasDiomedes Antônio Mognato

Um vinho para cada estação

Por Diomedes Mognato

Texto de Katlen Ignatowska
Sommelier pela Associazione Italiana Sommelier (AIS)
WSET3 (Wine & Spirit Education Trust)
Juiz Internacional IWTO para Qualificação de Vinhos
Embaixador Certificado da Academia de Vinhos de Portugal. Vinhos De Portugal.

O inverno está associado certamente ao consumo de vinhos tintos. Vinhos que nos façam sentir mais aquecidos, mais confortáveis e que nos proporcionem uma sensação de envolvimento e bem-estar. Queremos alimentos mais ricos e densos de texturas, e, normalmente optamos por pratos quentes, consistentes e robustos como carnes cozidas lentamente, sopas e caldos mais espessos, lasanhas e massas com molhos encorpados, risotos, e até aquela polenta cremosa com ragú fumegante das tradições italianas. Para acompanhar esses pratos que aguçam o apetite, vinhos tintos mais densos como os grandes italianos Brunello de Montalcino, Amarone, Barolo e Barbaresco. Cortes clássicos de Bordeaux (merlot + cab. Sauv. + cab. Franc) também se destacam em dias frios, os robutos Cahors e Rhône (França), Shiraz de Barossa Valley (Australia), Cabernet Sauvignon do Novo Mundo. Além de tintos espanhóis como os Reserva e Crianza da Rioja e os barricados de Mencía, da região de Bierzo, também da Espanha, assim como vinhos elaborados à base de malbec, sangiovese e da uva gamay são sempre uma boa escolha que nos fazem sentir mais aquecidos. Ainda assim, muitos dos pratos de inverno ficam ótimos e merecem ser experimentados na companhia de brancos; evidentemente , não estamos falando de brancos leves e joviais (como Sauvignon Blanc, por exemplo), mas sim dos mais encorpados, que na maioria das vezes tiveram estágio, ou até mesmo fermentação, em madeira, o que lhes confere mais untuosidade e estrutura, e que por vezes podem chegar a ser maiores do que as de alguns tintos e os tornam ideais para acompanhar certas iguarias. De certo, apostaria um bom chardonnay barricado do novo mundo para acompanhar um belo prato de Bacalhau com natas à portuguesa para quando o tempo estiver mais frio.


Mas, é quando chega o verão que o olhar sob o néctar de Baco muda e a bebida consumida em maior quantidade é a cerveja e não precisamos nem mesmo de dados estatísticos para confirmar este fato. Pois bem, dias quentes pedem bebidas refrescantes. Vinhos leves, frescos e versáteis são perfeitos à beira da piscina ou até mesmo na praia.


O brasileiro ainda não conseguiu inserir em sua cultura quotidiana o habito de consumir vinhos refrescantes e menos alcoólicos na estação mais quente do ano, mas estamos fazendo progresso e o quê para muitos parece inadequado, torna-se interessante se seguirmos a lógica de que essa é a estação dos sabores brilhantes e vibrantes. Buscamos pratos mais leves, de digestão mais fácil e por esse motivo, as saladas ganham destaque, podendo levar frutos do mar, e até mesmo frutas. O verão é tempo de vinhos brancos leves e aromáticos como um bom sauvignon blanc que acompanha pratos tão leves quanto ele: frutos do mar, peixes, presuntos crus e saladas. Os chardonnay do novo mundo possuem aromas de maracujá e frutas tropicais e servem para acompanhar pratos mais elaborados com queijos, peixes mais gordurosos, crustáceos e uma generosa porção de camarões à moda brasileira servida à beira da piscina. Vinhos verdes são fantasticamente refrescantes e os portugueses sempre souberam que é uma ótima pedida na estação mais quente do ano. Jovens Riesilings alemães e seus aromas de frutas brancas, flores e mineralidade típica ganham destaque com carnes brancas como frango ou porco. Ainda podermos fazer o giro do mundo com brancos deliciosos e escolher ótimos vinhos à base de Chenin Blanc tantos os tradicionais do Vale do Loire, França como os da África do Sul com seus aromas de frutas tropicais.


Embora sejam consumidos durante todo o ano e seja a bebida emblemática das comemorações e festas, os espumantes combinam perfeitamente com momentos à beira da piscina, na praia, em um happy hour com os amigos, em jantares na varanda. A sensação de frescor e leveza é mais evidente e provocada pelas borbulhas, fazendo este o vinho do verão. Os espumantes brut são os mais versáteis quando se trata de harmonização, vão bem com entradas leves e podem acompanhar uma refeição completa de variados pratos desde massas, queijos até peixes e carnes vermelhas.
Tanto os vinhos brancos quanto os espumantes devem ser servidos a baixa temperatura. Os espumantes servidos a 8 °C e os vinhos brancos servidos a 10 °C.


Outra opção muito interessante para os dias quentes são os vinhos Rosés. A cor rosada é fruto de uma passagem de apenas poucas horas das cascas da uva em contato com o mosto. Em algumas situações pode ser um intermediário entre os vinhos brancos e tintos, e para alegria de muitos, é um vinho muito fácil de ser apreciado e adorado. Por possuir uma acidez notável, tornam-se muito refrescantes, além de ter como características aromas frutados e florais, o que os tornam muito elegantes. Assim como os vinhos brancos, a temperatura de serviço para o Vinho Rosé é de 10°C. Um rosé de boa procedência é agradável, leve e possui boa intensidade, ideal para pratos mais suaves. Mas, pode ser uma grande companhia para um churrasco de carne ou de peixe, para um picnic, ou até mesmo para apreciar uma belo pôr-do-sol na areia acompanhado de alguns petiscos. A vocação para vinhos rosés de qualidade está na Provence, França, mas ainda na Europa, Espanha, Itália e Portugal entregam vinhos de primeira grandeza.
Contudo, se não for possível abrir mão de um vinho tinto no verão, recomendam-se os tintos jovens, leves, frutados que combinam com a estação, vinhos elaborados com a variedade Pinot Noir se enquadram perfeitamente nessas características bem como a Cabernet Franc, a Gamay, e alguns Merlots fora de Bordeaux, além de variedades regionais tintas mais leves tipo Bonarda, Barberada e Grignolino da Itália, Trincadeira de Portugal. Não devemos deixar de mencionar o tinto de verão por excelência, os Beaujolais, que podem ser servidos a uma temperatura entre 12°C e 14°C, são frutados, de baixo tanino e apropriados para temperaturas mais altas e refeições mais leves.


A indicação mais básica para acertar em cheio no vinho tinto quando faz calor é dar preferência aos exemplares mais jovens e, de preferência, os com menos contato com madeira.
Independente do estilo de vinho ou espumante escolhido, a dica é: não deixe o vinho de lado neste verão e aproveite brindando o melhor da vida!

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408