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Um hotel em área de preservação é inviável

Entrevista com Dr. Apolonio Cometti, ex presidente da OAB, escritor e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Espirito Santo. Foi convidado para atuar no processo como consultor e vai ser um dos palestrantes da Audiência.

Santa Teresa Notícia – O que o Senhor acha da instalação do Hotel Sesc na área do Parque?
Dr. Apolonio Cometti –Eu acho que é um equívoco político, a história dessa área começa, quando o Governador do Estado Christiano Dias Lopes Filho em 1967, promoveu Santa Teresa à condição de Capital Serrana do Espírito Santo, nos períodos em que viesse para o clima ameno das montanhas, construindo a residência oficial de verão do governo do Estado. Na época o presidente da Assembléia Legislativa, o Deputado teresense Henrique Pretti e Prof. Werther Vervloet juntamente com outros, adquiriram um terreno e doaram ao estado para a construção da residência de verão. posteriormente foi desenvolvido ali o Parque Temático Ecoturístico Augusto Ruschi. De uns anos pra cá, começou-se descobrir que o governador do estado doou aquela área para o Sesc para construção de um hotel. Há uma Ação Popular movida pelo filho de Ruschi, quando percebeu que estavam querendo destruir o parque temático, ele não teve dúvidas, um Hotel desse porte iria acabar com a forma e os objetivos do parque. Eu acho que a sociedade agora deve olhar pra isso e dar um pouco de apoio.

STN – Foi julgada uma parte do mérito da Ação recentemente?
AC – Houve uma sentença em que a justiça entendeu que seria possível compatibilizar o investimento e o parque no mesmo local, mas parece que isso não parece ser viável. O espaço ali é muito pequeno, e têm uma floresta já recuperada, O Sesc possui investimentos grandes e não faz nenhum sentido construir ali, será um investimento deficitário, há poucos comerciários, a menos que ele absorva o público dos hotéis, mas aí ele acaba com a rede hoteleira.

STN – Quais os impactos da construção desse hotel para a região?
AC – Hoje santa Teresa se sustenta com essa relação bucólica que têm com a sociedade, é uma relação, as pessoas são atraídas pelas pousadas, bucólicas, escondidas nos recantos da floresta, cada uma com sua riqueza característica, por ir comer nos restaurantes, cada um com sua particularidade, seu cardápio, isso tudo provavelmente irá desaparecer, só vai ficar os bandejões do Sesc. O que pode ocorrer? acontecer de desestimular esse público que gosta de Santa Teresa, de se hospedar nas pousadas. E aí as pousadas vão desaparecer, os hotéis também, e com o tempo o próprio Sesc não vai atender à expectativa da sociedade. Porque o número de comerciários de Santa Teresa não é suficiente para manter um Sesc, que é o público alvo dele.
O Sesc é isento. Então o município também vai sofrer uma perda fiscal. Se as pousadas não tiverem público, os restaurantes não tiverem público, a tendência é fechar as portas.
Outro dia, comi um bacalhau de um restaurante português na rua do Lazer, eu saio daqui pra comer bacalhau em Lisboa… Aqui comi um igual! Isso é uma coisa que têm que ser sustentada à qualquer custo. Quando você chega em cidades como Londres, Nova York, todas têm sua área ambiental protegida, seus parques. Ao chegar em Santa Teresa, do lado esquerdo têm a escola e a bonita floresta, agora condenada pelo projeto. Destruir aquilo ali pra fazer um grande hotel é um erro político.
É como condenar à morte o cartão de visitas de Santa Teresa. Esse Parque temático seria o guardião da entrada de Santa Teresa, um convite, uma recepção.

Então é preciso ter muito cuidado antes de você destruir uma coisa que Deus colocou aí pra população. O divino colocou ali. O Sesc pode achar um outro lugar que não implique em estar próximo do rio que passa dentro do parque. Eu não sei nem como eles vão conseguir uma licença ambiental. Não é justo sentenciar à morte um parque que nasceu de uma idéia fantástica de preservar Santa Teresa o quanto possível. Ninguém está impedindo que Santa Teresa cresça, mas ela têm crescer harmoniosamente com a natureza sem destruir aquilo que há de mais caro que é a chegada da cidade. A cidade nasce ali, começa ali.
O Sesc, eu acho que ele têm uma finalidade social interessante,mas precisa se encaixar no contexto, um Sesc em Vitória ou próximo de Vitória é muito bom porque você tem um público alvo grande.

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408