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Usina de lixo, o que diria Ruschi?

Por  Fernanda Salles

A tal “Usina de Reciclagem” (que nunca deixou claro o que na verdade é) chegou ao cúmulo de despejar dejetos na margem da lagoa próximo ao galpão. Esse empreendimento que desde o início foi questionado por juristas e ambientalistas por conta da proximidade com a ReBio Augusto Ruschi e com o manancial tributário do Timbuí que fica a meros 50 metros.

O que mais me impressiona é a inércia ou falta do olhar do Ministério Público para essa questão tão vital que é a saúde humana.

O desrespeito às normas ambientais e à saúde das pessoas que trabalham em um ambiente insalubre têm sido rotina nessa administração e na anterior.  

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Gostaria de lembrar da luta do ecologista André Ruschi para impedir tal dano. Estive folheando uma entrevista do André, concedida à Carol Telles em junho de 2009 ao jornal A Voz do Colibri, onde denunciava o empreendimento, por se encontrar dentro da área de amortecimento da Reserva.

“Não se pode discordar que a ReBio Augusto Ruschi é lugar a permanecer indene de qualquer risco. Ao eleger uma determinada área à condição de preservação permanente, o Brasil não apenas a inclui na legislação especial que regula as reservas em geral, mas também define uma série de condições especiais que, não respeitadas, levam-na à destruição. No caso da ReBio Augusto Ruschi esta peculiaridade preservacionista legal soma à grandeza de sua biodiversidade.

Em Santa Teresa ficou definido, no Plano de Manejo, que a faixa de 6 km do entorno é a área de amortecimento, onde qualquer empreendimento que possa, repetimos possa, causar degradação, ainda que desconhecida, seja submetida ao processo de licenciamento chamado Estudo de Impacto Ambiental seguido de Relatório de Impacto Ambiental, (EIA/Rima).

O advogado ambientalista José Buaiz na época foi taxativo. ”Por estar no entorno da ReBio o licenciamento deveria ter sido previamente submetido à unidade. O gestor da reserva é quem têm a competência legal de verificar os estudos preliminares e tomar duas atitudes.

Só para se ter ideia, a possibilidade de vetores polivalentes cruzados, uma das várias formas de poluição, sozinha já é suficiente para provocar o EIA/Rima. E o que é o tal de vetores polivalentes cruzados? Responde o advogado, ”É o fenômeno das variadas formas de vida urbana atraídas à área por um lado, e de outro, as tantas espécies silvestres também, criando o ambiente de patogenias cruzadas, as da reserva migrando para a comunidade e as desta para a reserva, uma temeridade cujas consequências são maléficas à ambas e inclusive põem em risco a permanência  das  residências tanto quanto a incolumidade ambiental da unidade.”

André Ruschi afirmava que a usina nunca deveria ter sido construída naquele local, pois o manejo de resíduos em contato com o solo é ambiente propício para a proliferação de doenças transmissíveis por vetores biológicos como, Peste bubônica, vermes, bicheira, doenças gastrointestinais, contaminação da água por metais pesados.

Tenho certeza que essa foi a maior afronta ao Espírito de Ruschi, que ainda vive. O outro grande ataque ao meio ambiente teresense foi o Governo do Estado como o consentimento dos gestores do Museu, fazer do museu, palco para o fomento de eucalipto no município, que resultou em um prejuízo irreparável, com os milhares de pessoas aleijadas com o manejo desta monocultura, pessoas sem mão, perna, dedo, braço e invalidez e por outro lado a crise hídrica provocado pela destruição das nascentes.

Evandro Seixas Thome

Brasileiro, Tronco Aruake, Etnía Baré, nasceu em Manaus - AM em 1963, cursou filosofia no Colégio Salesiano Dom Bosco, foi legionário da Cruz Vermelha de 1987 a 2001, atualmente é técnico em gestão de resíduos sólidos, ambientalista pelo Observatório da Governança das Águas (OGA); Jornalista/editor do periódico mensal Santa Teresa Notícia (STN) em Santa Teresa-ES. Contatos pelo 27 99282-4408