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Escola São Paulo – ESP

Escola São Paulo – ESP

Por Frei José Corteletti

No bolsinho da blusa, sobre o coração, em letras maiúsculas grandes: E ao alto e, logo abaixo, S P, bordadas com linha vermelha ou azul, as iniciais da Escola, nosso orgulho. O professor também tinha orgulho de sua escola e fazia questão de apresentá-la bonita diante das outras e do povo. Era muito elogiada, sobretudo pelos padres, que visitavam as comunidades rurais. Ela se destacava pela disciplina rígida e presença maciça, exigência do professor.

A escola possuía um só tambor para as paradas e apresentações ao povo. Estão bem gravadas em minha memória, quando com sete anos eu, fomos a duas grandes festas: uma na Barra do Perdido, oito quilômetros por estrada de burro, à fazenda do Cazuza Bonfim, então Prefeito do Município de Santa Teresa. A viagem de ida foi muito folclórica. Quais soldados em guerra, uniformizados, sempre descalços, munidos de embornal ou sacola portando a matula, em fila indiana, por estrada de tropa, comandados pelo professor, íamos revezando conversas livres, cantos ou hinos, ou marchando. Todas as vezes, porém, que se avizinhava uma residência, o tambor “ra-ta-plan” e nós marchando e cantando, pé forte no chão, chamando a atenção dos moradores. Chegamos à fazenda, marchando e cantando. Nunca tinha visto tanta gente em minha vida, gente de Santa Teresa e de todo lado, gentes importantes, os homens quase todos de chapéu na cabeça. Pelo que restou em minha mente, era uma festa popular, tendo como ponto central de atração as apresentações artísticas de nossa escola, mais teatro e números artísticos dos rapazes e moças de São Paulo do Perdido ensaiados pelo professor Olímpio. A nós, alunos, os cânticos, poesia, monólogos de cunho instrutivo para as crianças, combatendo o mal trato aos animais e árvores, a mentira, os fumantes e os cachaceiros, e uma comédia muito engraçada com brigas e confusões entre bagunceiros e soldado. Pergunte ao Tonim Lopes, ao Laurindo Demuner que se lembram bem como foi tudo. A festa terminou lá pelas três horas da tarde. Sei ainda que houve algum discurso, mas o último orador foi o Prefeito Cazuza que, para encerrar a festa brilhante, solenemente como sempre fazia, curto e objetivo, bradou: “Viva o Brasil” … e terminou tudo! Mamma mia!!!. A volta foi livre e eu, na garupa do cavalo montado por papai.

No mesmo estilo, caminhando ou marchando montanha acima, quatro, cinco quilômetros, rumamos para Pedra Alegre. Era festa do padroeiro, São Geraldo, 16 de outubro. A Carmelina Loss, boa de ouvido, reforçada com outras meninas, era sempre encarregada, nessas ocasiões, de aprender as músicas de outras comunidades e, na escola, no dia seguinte, ensaiá-las para cantarmos na igreja de nosso São Paulo.

Sim, meus senhores! O professor Olímpio era muito criativo e respeitado. Basta ver os teatros apresentados e os números artísticos, para o deleite do povo. Isso tudo em meu São Paulo e comunidades vizinhas…! Seja nas procissões que nos enterros ou dentro da igreja, ele queria de todos o respeito ao sagrado. Na igreja durante a reza, se alguém – podia ser quem fosse – olhasse para trás, batia-lhe no ombro e perguntava se havia perdido alguma coisa; se o devoto ficasse ajoelhado só com um joelho, perguntava-lhe se estava caçando, à espera de veado, a modo atirador. Se nas procissões ou enterros, ao passar a cruz, alguém ficasse sentado, convidava-o a levantar-se em sinal de respeito. Aqueles que o conheciam, respeitavam mais o professor que a cruz ou o andor passando. Mamma mia! Quando morria alguém da região, os alunos deveriam comunicar aos demais moradores a morte e a hora do enterro. Todos os alunos, obrigatoriamente, deveriam participar juntos como em dia de aula, rezando e cantando.

Era assim mesmo! Mamma mia!!!…