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Os cobras do volante

colunista

Os cobras do volante

Por Aparecida Rampinelli

Em entrevista aos condutores de veículos que recorrem às clínicas credenciadas ao Detran: Psicomast (Santa Teresa/ES) e Santa Maria de Jetibá/ES, para renovarem a CNH, nas categorias C,D e E, referentes a caminhão, ônibus e carreta, sou sempre surpreendida pelas histórias que se iniciam ainda na tenra idade, em sua área rural. Dizem iniciar a dirigir carro, caminhão e trator, entre os 9 e 10 anos, para ajudarem aos pais nas atividades rurícolas. Relatam com alegria sobre a facilidade de rodarem o país, como viajantes solitários, com os seus vinte e poucos anos. E, já nessa idade, sentem-se os cobras no volante.

Questionei o que é ser cobra? Lembrei-me do animal peçonhento e busquei uma associação. Descobri que a cobra, mesmo sem ter pernas, anda sobre o solo, mesmo sem ter braços sobe em árvores, mesmo sem ter nadadeira, atravessa rios e mesmo sem ter asas é capaz de saltar de uma árvore a outra, em um só voo, alçando até 50 metros de distância, sempre de forma muita certeira e silenciosa. Entendi que um animal com tão poucos recursos, consegue ir além do que a sua condição física pode lhe oferecer.

Comparando-a aos nossos caros profissionais de trânsito, é fácil perceber como nos surpreendem com as suas limitações. Possuem pouca escolaridade, apresentam um comportamento tímido, e muitas vezes, não escrevem e nem falam corretamente o português, sendo em sua maioria, monossilábicos. São de baixa renda, e conseguem percorrer o país de norte a sul, de forma confiante e destemida, solucionando todos os obstáculos em seu caminho, de forma responsável e cautelosa.

Apesar de profissionais invisíveis até há pouco tempo, sabem da força e coragem que têm. E, apesar da indiferença da sociedade com o seu árduo, solitário e perigoso trabalho, mostram-se satisfeitos com a escolha da profissão, apesar dos riscos que correm, da família saudosa que deixam para trás por semanas e até meses. Como canta a Sula Miranda: “..Traz uma carga de saudade na chegada…”
Porém, nesse vai e vem pelo país, existem aqueles que se sentem, além de cobras, os verdadeiros “Reis da Estrada”, não respeitando a Legislação de Trânsito e nem aos colegas transeuntes. Sabemos que o carro gera sensação de poder e liberdade. E, podemos ver as mudanças de comportamento ao volante, mostrando sua má índole, para fins secundários, como:

  • SUPERIORIDADE: Quer ser o maior, o melhor, achando-se com mais direitos que os outros. Não respeita a sinalização, locais de estacionamento e semáforos. Procura levar vantagem em tudo.
  • COMPETIÇÃO: Provoca, desafia, agride, revida, não cede a vez. São encrenqueiros, xingam, brigam e causam colisões por coisas fúteis. Reagem com violência no trânsito. Tem que “vencer”. Quando prejudicados são intempestivos e cruéis.
  • E, apesar do mau comportamento, em muitos casos, podemos acrescentar aos viajantes do tempo, o uso de energéticos, rebite, álcool e drogas ilícitas, podendo se tornar verdadeiros assassinos ao volante, tendo o veículo como uma arma letal em suas mãos.
    Mas, vale a pena lembrar três coisas:
  • Os acidentes são evitáveis.
  • Imprudência é crime.
  • E, você dirige como você vive.

1 comentário

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Myrian

Amei ,meticulosa ,expressionista ,mostra um retrato oculto de seres ,com os quais convivemos ,os cobras ,bravíssimo !!!

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